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sábado, 6 de maio de 2017

Sobre um ninho de cucos…


Ao vermos certos comportamentos e ao tentarmos analisar algumas das situações mais visíveis da nossa sociedade – política, social, económica ou mesmo cultural – fica-nos como que uma sensação de estarmos a sobrevoar algum ‘ninho de cuco’. Ora, sabendo nós que os cucos não têm ninhos, antes usufruem dos ninhos que outras aves fazem e onde os ditos cucos colocam os ovos para nidificação… poderemos ser quase levados a considerar que há muita gente – seja qual for o setor ou campo de ação em que se enquadre – que se comporta à maneira dos cucos… numa leitura mais ou menos exigente de tantos aspetos da nossa vida coletiva.  

– Que dizer da tentativa de certos partidos políticos anunciarem a celebração da vitória sem terem candidato, só porque dão apoio ao pretenso vencedor…independente? Não será isto, visão e comportamento de cuco? Como explicar que há seriedade, se vemos colocar os ovos para nidificar em ninho alheio…mesmo que fazendo os ovos intrusos serem pintados da cor daqueles que os chocam!

– Que consideração poderemos ter para com pessoas e ideologias que se vangloriam de lutar contra a União Europeia, sabendo que só esta lhes pode conferir espaço e estatuto de protesto e de ganha-pão? Não será espírito de cuco disfarçado este de contestar quem lhes alimenta o ego e as contas de sobrevivência para a contestação? Não fosse o capitalismo que abjuram e ficariam sem possibilidade de serem ouvidos, pagos e tolerados!

– As eleições presidenciais francesas são um dos melhores repositórios de ovos de cuco, pois a extrema-esquerda confere aos inimigos da extrema-direita a capacidade de aspirar ao poder, usando estratégias idênticas para possíveis resultados mais ou menos iguais, se bem que nem todos se deixarão enganar, agora pelos cantos da sereia má!

– Com quantos e tão subtis disfarces se tenta ludibriar os mais incautos na convivência social e cultural, pois diz-se em palavras o que facilmente se contradiz com atos e comportamentos: milhentas formas de corrupção se vão alimentando com palavrinhas mansas, embora sejam arietes de maledicência e de ruindade…até à hora em que se descubra a tramoia.  

– Esta cultura de cucos parece ser favorecida logo desde a mais tenra idade, onde os mais novos conseguem com choraminguices, birras e tropelias conquistar e manipular os mais velhos, tanto os pais como os avós…Bastará atender às reações nos jardins-de-infância e perceberemos a ‘universidade’ de tantos pequenos heróis.

Com efeito, é muito pior a psicologia do cuco do que a da coruja, pois esta, embora vendo os filhos feios com os seus olhos embelezados, aquele serve-se do esforço e do trabalho alheio para conseguir os seus objetivos, por vezes, embebecidos na recolha dos frutos e não na assunção do trabalho correto e necessário.

A natureza ensina-nos tantas coisas e dá-nos tantas lições. O problema é nós sermos capazes de as entendermos e de vivermos em conformidade com as lições ensinadas e aprendidas. 

= E nem mesmo o ‘jogo da baleia azul’ tem servido para que reflitamos sobre as influências que estão a ser lançadas nos mais novos. Por esse mundo além vemos imensos casos de adolescentes e de jovens que entram nesta espiral de agressividade, já não somente para com os outros, mas cada um para consigo mesmo. Ora, se alguém não gosta de si, se despreza a tal ponto o seu corpo que é capaz de se mutilar – sabe-se lá sob que influências e de quem seja o comando! – estaremos a entrar numa crise de repercussões impensáveis sobre a nossa cultura e quanto a representa e simboliza.

Mais uma vez a psicologia do cuco faz com que sejam semeadas tendências perigosas e que poderão fazer com que, muito em breve, não saibamos quem é quem, neste emaranhado de conjeturas, de oportunismos e de sem-sentido de vida…

Não será este pretenso ‘jogo’ um grito surdo contra a falta de valores com que temos vindo a educar os nossos mais novos? Demos-lhes coisas, mas não amor e atenção. Demos-lhes conforto e regalias humanas, mas não os colocamos a olhar para o Alto e para o lado, respetivamente, para Deus e para os outros. Basta!     

 

António Sílvio Couto

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