Numa espécie de repulsa e duma incontida rejeição, ouso dizer – como português com alguma instrução, graças a Deus, com distanciamento de certos ‘cultos’ e ainda com alguma independência assumida e agradecida – que me enoja a petulância de alguns (pretensos) inteletuais que se nivelam pelas pretensões daqueles que os adulam e se curvam acintosamente a quem os promove e explora.
Sinto vergonha – não ‘em ser português’ como disse um certo purpurado com galões militares e outras tantas regalias de bem-falante – em ter de ficar calado – que não em silêncio nem a resmungar – ao tentarem reduzir a expressão ‘cultura’ aos fazedores dessa reinante mentalidade hedonista/materialista, marxista/maçónica e, sobretudo, em cruzada anti-cristã.
Tendo participado – ativa, consciente e atentamente – na manifestação cultural duma procissão católica, na Moita do Ribatejo – com milhares de pessoas, tanto participantes como assistentes – e sem qualquer referência noticiosa, que uns míseros fantoches – esse seria um bom epíteto para o número ‘artístico’ que serviu de boneco à notícia, no centro de Lisboa – tenham levado a dar-lhes tempo de antena como ‘indignados’, quando o termo mais correto deveria ser de ‘indignos’, apesar de tudo, nesta ‘nossa cultura’... medíocre, subsidiada e de fachada adulada e aduladora... dos patrocionadores e/ou abespinhada de quem não a promove ou aplaude... mesmo que tacitamente.
1.Culturalmente laicista por conveniência ou tática?
Não deixa de ser preocupante que a tendência da noção de ´cultura’ seja, cada vez mais, uma espécie de luta contra tudo que possa manifestamente farejar-se como avesso às coisas de índole espiritual – incluímos aqui as várias leituras sob as diferentes tendências onde a perspetiva metafísica possa surgir! – combatendo, sobretudo, o mínimo afloramento cristão... como retrógrado, conservador ou (quase) anti-social. De fato, estamos a colher os resultados da sementeira de ignorância fora de Deus e/ou da ruptura com os valores evangélicos, tanto na dimensão social como na incidência política, educacional e, mais abragentemente, cultural... pois interessou explorar um certo preconceito obscurantista, afunilando os métodos e condicionando as leituras...
Os programas da maior parte dos estudos – nas escolas secundárias e/ou nas universidades – foram sendo concebidos em ordem a decapitar da noção de espiritualidade todo e qualquer desenvolvimento dos mais novos, tornando-os servidores da ideologia que faz de cada indivíduo uma espécie de ‘ser não-pensante’, desde que aplauda uns tantos autores progressistas... na linha anti-vida, contra a família e como mentores da regulação estatal dos comportamentos com os subsídios da pílula e do preservativo... a pataco ou de emergência.
Vivemos numa tendência progressiva a fazer de cada pessoa uma espécie de joguete nas coisas de valorização da dimensão psicológica e espiritual... promovendo jogos de dissimulação, de acontecimentos de boa aceitação popular, com convívios e comezainas ao desbarato, simulando espetáculos com artistas bem cotados... pois distrair o povo vai entretendo e alienando... fazendo, agora, dos jogos (de futebol ou afins) essoutra subtileza para distrair os mais incautos, os esfomeados, os desempregados...
Até onde poderá ir esta campanha? Quem ousará afrontar tais interesses? Poderemos contar com interessados nesta luta... do lado do não-materialismo?
2. Depois do atual ‘pão e jogos’, poderá surgir uma outra cultura... humanista?
Se atendermos à época de decadência do império romano do Ocidente poderemos encontrar idênticos sinais de crise de civilização com aquela que estamos a viver: imoralidade (mistura de amoralidade com comportamentos de imoralidade, cfr. Rm 1,26-27), descalabro económico e tensões sociais... afrontamento da nova cultura emergente do cristianismo, como desafio social e moral. De fato, a força do cristianismo cresceu do lodo (esterco ou descalabro) da cultura, cada vez menos humanista, do império romano do ocidente.
Hoje, sentimos as oscilações da nossa (dita) cultura ocidental, que, como que rejeitando os seus alicerces mais comuns e fundacionais, se vê confrontada com um colapso da razão de ser do (pretenso) projeto europeu, que poderá implodir, quando cada estado ou uma ou outra das tendências quiserem impor-se às outras... mesmo que vivendo num frágil equilíbrio das várias forças... ideológicas, financeiras e morais/espirituais.
- Não basta tentar encher estádios de futebol, se o povo vive na penúria.
- Não basta fazer festas e distribuir bebidas ao desbarato, se o povo continua ignorante.
- Não basta reclamar contra tudo e com alguns, se o povo estiver desempregado e ao sabor dos manipuladores.
- Não basta encher praças e avenidas com subsidiodependentes, se o povo ao chegar a casa tiver o prato cheio de nada.
- Não basta tentar enganar... porque a mentira, a exploração e o medo depressa desenganam, quem pensa.
Porque acreditamos na força do humanismo cristão, dizemos: podem contar connosco na valorização da cultura popular, servindo as pessoas, desinteressadamente.
António Sílvio Couto
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