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quarta-feira, 17 de janeiro de 2024
Enterro da paróquia?
– Quero comunicar-vos que, logo à tarde, na habitual missa das 18 horas, vou celebrar uma “missa de corpo presente”, a que se seguirá o “enterro” desta paróquia.
E continuou com a celebração da missa, como se o que acabara de dizer fosse a coisa mais natural do mundo.
Algumas das presentes não perceberam logo à primeira, e perguntaram a quem estava mais próximo o que é que o padre tinha dito. Mas como nenhuma das presentes percebera bem o “anúncio” que tinha sido feito, umas delas, mais afoita, no final da missa, foi ter com o padre à sacristia e perguntou-lhe o que é que ele quis dizer com aquelas palavras.
O padre só respondeu: venham e verão!
Rapidamente a notícia do “enterro da paróquia” chegou aos ouvidos de todos os habitantes, de tal modo que, ainda as seis horas da tarde vinham longe, já a igreja estava apinhada de gente batizada ou não, de crentes e de não crentes, de católicos, de agnósticos e de ateus, num número tal que transbordava para o adro.
Chegada a hora marcada chegou à porta da igreja o cangalheiro da vila, no seu veículo, transportando uma urna fechada.
– Não se importam de dar aqui uma ajudinha. Preciso de quatro homens fortes.
Sem que houvesse necessidade de repetir, pois a curiosidade era imensa, e não havia tempo a perder para que se fizesse o “enterro da paróquia”…
Após a celebração da missa de “corpo presente” e, no final, dirigiu-se a todos os que ali estavam, dizendo:
– Antes de mais quero agradecer a presença de todos neste momento em que vamos proceder ao “enterro da paróquia”. Mas, antes de levarmos o caixão até ao cemitério, quero convidar-vos a todos, sem exceção, para, individualmente, vos despedirdes da falecida. Façam uma fila ao centro e aproximem-se da urna, calmamente.
O padre abriu o ataúde e… quando o primeiro lá chegou, deu um grito e um salto enorme, afastando-se rapidamente do caixão, benzendo-se repetidamente. E o mesmo aconteceu com todos os outros.
Qual teria sido a razão de tal comportamento?
O padre tinha colocado dentro da urna um enorme espelho, de tal modo que, quando alguém olhava lá para dentro, o que via era a sua própria imagem refletida no espelho.
Isto é uma pequena estória…inventada, mas que pode e deve fazer-nos refletir mais do que tentarmos arranjar desculpas ou acusações para com outros.
Para quem tenha um mínimo de conhecimento destas coisas de organização e de dinamização da Igreja católica saberá que a paróquia. Diz o Catecismo da Igreja católica: «A paróquia é uma certa comunidade de fiéis, constituída estavelmente na Igreja particular, cuja cura pastoral, sob a autoridade do bispo diocesano, está confiada ao pároco, como a seu pastor próprio». É o lugar onde todos os fiéis podem reunir-se para a celebração dominical da Eucaristia. A paróquia inicia o povo cristão na expressão ordinária da vida litúrgica e reúne-o nesta celebração; ensina a doutrina salvífica de Cristo; e pratica a caridade do Senhor em obras boas e fraternas» (n.º 2179).
Ora, perante esta espécie de definição descritiva podemos encontrar alguns elementos essenciais para que uma determinada porção do povo de Deus seja considerada uma paróquia:
– uma comunidade de fiéis de forma estável como Igreja particular, sob a autoridade do bispo diocesano, cuja cura pastoral está confiada ao pároco, como pastor próprio;
– é um lugar onde todos os fiéis se reúnem para a celebração da eucaristia, sobretudo dominical, onde se ensina a doutrina da salvação de Cristo e onde se praticam as obras de caridade.
Mais do que um espaço de serviços religiosos, a paróquia é, por natureza, um lugar onde todos se sintam irmãos, construtores de tudo quanto possa ajudar a serem participantes e não meramente assistentes. Com a mobilidade dos nossos dias, ser paróquia traz desafios superiores a viverem num determinado espaço geográfico. Embora haja clareza de ideias, precisamos de nos questionarmos aprendendo a ler os sinais dos tempos e não só repetir o que já deu frutos no passado, mas que precisam de ser aferidos aos tempos atuais…
António Sílvio Couto
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