Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



segunda-feira, 12 de julho de 2021

O ‘mal’ de uns é o ‘bem’ de outros?


 Há dias tive uma conversa que me ajudou a elucidar esta possível contradição (ou não) – o mal de uns é o bem de outros.

O meu interlocutor, à minha pergunta como iam os trabalhos, ele ripostou: com tantas restrições às saídas noturnas, os jovens não saem, não bebem mais um copo e não têm acidentes, por isso, o nosso trabalho está a ficar escasso… Ouvi, registei e deduzi: como não há tantos acidentes – sobretudo com chapa-batida – também não há tanto trabalho como seria desejável e/ou necessário!

 1. Em vários campos de atividade podemos constatar esta suposição de que do mal que acontece aos outros, há quem colha frutos benéficos, mesmo que isso não precise de repercutir-se nas desgraças alheias. Veja-se o resultado final do campeonato europeu de futebol, acontecido no último mês: a equipa dos ‘três leões’ fez de outros tantos jogadores – todos da mesma tez, por sinal – os réus da derrota. Não houve incúria de quem os escolheu para marcarem os penalties ou foi uma mera revelação das suas más prestações? Mais um vez aquele nefasto ajoelhar antes do jogo serviu como sinal de manipulação e de indisfarçável negligência duma maioria amestrada por razões não-racionais… Não aprenderam as lições recentes?

 2. As horas gastas nas televisões em explorar os erros alheios tem sido, nas duas últimas semanas, a forma encontrada para esticar a intoxicação quanto às mazelas dos outros: um empresário sem limites de ambição e uma ambição articulada com trejeitos de empresário, foram dois dos modelos de sociedade que nos entretiveram ao nível noticioso. A ascensão dos dois protagonistas são resultado das pretensões politico-culturais que fizeram fama, sucesso e dinheiro nos últimos vinte anos da nossa vida pública.

Os que antes se ufanavam de serem fotografados ou exibidos com tais figuras, agora sentirão alguma dose de vergonha, pois podem ser equiparados às vítimas…A promoção de antanho dá a impressão que seria preferível não ter acontecido… Os registos sobre o que era considerado ‘bem’ funciona como exemplar de todo o ‘mal’?

 3. Com que petulância vemos exibirem-se mentores da ‘moralidade’ com laivos de ilegalidade: uns aparecem como hakers e piratas informáticos, outros surgem como mentores do ‘quanto pior melhor’, pois, isso poderá significar conquista de votos, quando deveria ser averiguado o passado criminoso, tanto da família, quanto dos valores – mesmo económicos – em que se alicerçam. Já deu para perceber que é da ruindade de alguns que se faz a programação política de outros quanto ao presente e para o futuro. Esses ‘moralistas’ conseguem lançar um razoável fumo de confusão, mesmo que tenham as mesmas vivências e usufruam das piores condutas…até que caia a máscara em que se movem e por onde se guiam na sombra…

 4. Estamos num tempo em que os interesses pessoais (egoístas, interesseiros e mesquinhos) fazem com que os direitos dos outros sejam ofuscados e passem para plano secundário. A temática do combate à pandemia – cuidados, condições e vacinação – veio revelar que uma boa parte dos cidadãos se está a borrifar par o cumprimento das regras, pensando mais em si do que nas implicações que o comportamento pessoal tem na vida dos demais. Quantas facilitações têm contribuído para o retrocesso dos dados finais nos últimos dois meses. Porque já conseguimos atingir resultados de boa conduta, pelo contributo de todos, agora, nos devemos interrogar sobre o incumprimento e os resultados tão dramáticos: o bem dos outros não justificaria maior luta contra o mal de todos e de cada um? Efetivamente, o mal dos outros nunca atingirá o melhor de lutarmos pelo bem de cada um…  

 5. Pela benevolência que todos nos merecem precisamos de os incluir não na maledicência, com que tantas vezes os brindamos, mas inseri-los na repercussão que sobre eles lançamos, pelo olhar compassivo, misericordioso e atento. Será com bondade simples, sincera e leal que construiremos um tempo e um espaço mais fraterno porque mais humano e cristão!         

 

António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário