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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O Carnaval ‘possível’... deste ano

Habituados como estamos a ‘brincar’ ao (dito) Carnaval como que soou a brincadeira a não-tolerância de ponto – nunca foi declaradamente feriado, embora seja vivido como tal! – com que o governo português brindou os funcionários públicos e, por arrastamento, o setor privado.
Houve impropérios e reclamações, tanto de autarcas como de comerciantes, ofendidos e detratores, locais e nacionais... e, (repare-se!) poucos apoiantes – convictos, assumidos e esclarecidos – da iniciativa governamental.
Com efeito, ouvimos ou fomos captando, mesmo que em surdina, certas questões: então, o povo não pode divertir-se? Como se vai recuperar o investimento – autárquico e simbólico – já feito? Querem prejudicar o (já) debilitado setor turístico? Os direitos adquiridos não se sobrepõem à crise? Não será preciso um certo descanso, diante das (atuais) agruras da vida?

= Cultura, tradição ou alienação... de Carnaval
Reconheço que não fui educado – sobretudo na idade das influências mais inconscientes – na cultura do Carnaval. Vivi, no entanto, por razões exclusivamente de ordem pastoral, numa zona onde o Carnaval começa(va) em Novembro e termina(va) já depois da entrada na Quaresma. Com efeito, em Sesimbra, o rufar dos tambores começava pelos ‘Santos’ (celebração de Todos-os-Santos, a 1 de Novembro) e durava, pelo menos, três meses... com todas as condicionantes que implicavam tolerância, ritmo e até desculpas... nas coisas da Igreja, senão queríamos ter problemas!
Para quem não se identificava com essa ‘cultura’, algo estava em confronto. Para quem saía em contra-golpe, quando os foliões entravam, algo motivava. Para quem pouco lhe dizia essa época... Fui percebendo que nem tudo era tão malicioso, como parecia. Fui entendendo que havia muito trabalho, suor e arte nas preocupações de tanta gente... mais ou menos assumida e identificada com a festa popular.
Foi com alguma ousadia que, em 2003, até tivemos a transmissão em direto de uma missa, pela televisão, apresentando motivos do Carnaval. De fato, nem tudo correu como era expectável, isto é, com os intervenientes, as decorações e até as músicas mais cuidadas... No entanto, quisemos servir à difusão, ao vivo, dessa manifestação cultural numa pretensão em ir muito para além das barreiras da concha mental e psicológica... daquela povoação. Cremos – apesar de tudo! – ter aprendido muito com os ritmos daquele carnaval...Talvez nem sempre todos tenham aproveitado as oportunidades oferecidas.

= Que fazer por si sem esperar (só) dos outros?
É diante deste panorama que as decisões governamentais, que fazem do Carnaval um tempo de trabalho e não tanto uma ocasião de lazer, que ousamos sugerir algumas linhas de conduta... em tempo de contenção e inseridos na (dita) crise:
- Às autarquias, que promovem, patrocinam ou usufruem do Carnaval, criem condições sociais para continuarem a viver a vossa festa e não se refugiem na mera contestação... só porque não vos deram a boleia da tolerância de ponto. Porque têm muito a ganhar, criem o vosso espaço cultural e social. Por isso, decretem feriado encapotado de tolerância de ponto e tudo correrá bem... para o vosso lado.
- Às entidades promotoras do Carnaval não tentem ludibriar certos incautos com acusações de pouco rendimento, pois, muitas vezes, nem prestam contas dos lucros auferidos... sabe lá para que fins. Por isso, não tentem encontrar desculpa para a vossa administração... sem lucros.
- Aos participantes nos enredos carnavalescos – mais parece que serão enrosquedos! – que seria para a  vossa ‘imaginação’ senão fossem as fífias de certos políticos e/ou os erros dos adversários... Por isso, continuem na linha do escárnio e do maldizer tão portuguesa, corrigindo os costumes, alfinetando os adversários e tentando ‘moralizar’ alguns dos comportamentos... coletivos.
Tanto, quanto possível, vivamos o Carnaval a sério... e a Quaresma terá nova vivência na fé!

António Sílvio Couto

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