Tem vindo a diminuir, entre os portugueses, a capacidade de sorrir. Este é o resultado do balanço de um estudo, que está a decorrer desde 2003, e que, perante as fotos publicadas nos jornais, no último semestre do ano findo, nos fazem perceber que o rosto dos portugueses – sobretudo no masculino – andam mais tristes e fechados.
Ainda segundo este estudo de uma universidade portuguesa, são sobretudo os homens com mais de sessenta anos aqueles que se apresentam mais sisudos, enquanto as crianças – como não podia deixar de ser! – são as que apresentam sorrisos mais abertos.
Quais serão as razões para que alguém manifeste ou não um sorriso? Seguindo, novamente, os dados do estudo citado, o sorriso é uma reação que se desenvolve em situações que envolvam o bem-estar e a felicidade, e, quando tal não se verifica, por motivos externos, o sorriso torna-se mais inibido e até mesmo recalcado.
= De onde vem a felicidade, de dentro ou de fora? De si ou dos outros?
Nesta breve reflexão sobre o sorriso e, possivelmente, o impato que este revela da nossa (possível) felicidade, talvez seja oportuno contar esse ‘episódio’, ocorrido, segundo parece, num seminário para casais.
Estava o conferencista a discorrer sobre o tema da felicidade, quando perguntou a uma senhora: ‘O seu marido fá-la feliz?’. O marido estava um tanto distante da senhora e, por isso, ficou apreensivo sobre a resposta que ela iria dar. Ao que ela respondeu: ‘não, o meu marido não me faz feliz!’. Inquiriu, novamente, o conferencista: ‘Mas porque é que o seu marido não a faz feliz?’. É que – respondeu ela – se eu não for feliz, ele não me pode fazer feliz’.
Efetivamente, a felicidade não é coisa que os outros nos podem dar, se nós próprios não a tivermos em nós mesmos, embora eles possam ser felizes connosco e nós com eles. De fato, a descoberta da felicidade – espelhada ou não na atitude de sorriso, que é muito mais do que mera gargalhada! – terá de emergir de nós mesmos ou andaremos em busca de compensações – mais ou menos fúteis e/ou admissíveis – para tentarmos ser felizes e em fachada de sorriso... oco e forçado!
= Seriedade versus serenidade... para a infelicidade?
Quando tanta gente faz depender a sua felicidade – com mais ou menos sorrisos de circunstância – das coisas materiais, poderemos compreender que a (dita) crise social tem vindo a fechar – o rosto e o comportamento – as pessoas ao essencial, tentando fazer valer o ‘ter’ mais do que o ‘ser’. Talvez esteja correlativo, então, o processo de menos sorriso com a caducidade dos valores materialistas em que estava assente a vida de tantas pessoas!...
Somos – desgradaça e efetivamente – resultado de um certo projeto de felicidade onde até as pessoas são usadas num aproveitamento maior ou menor dos outros em favor dos (nossos) intentos egoístas e interesseiros. Esta época do descartável tem vindo a envenenar as relações entre as pessoas – mesmo no seio das famílias – fazendo-as peças de um certo jogo, onde todos temos a perder, pois deixamos de contar pelo que somos para sermos explorados pelo que parecemos ter...
= Desafios pessoais e coletivos
Enquanto o governo não se lembra de taxar com imposto máximo (iva, irs ou irc, etc.) a possibilidade de sorrirmos, em Portugal, tentemos encontrar sinais e possibilidades de dar um sorriso àqueles/as com quem nos cruzarmos, no nosso dia a dia... a começar por quem está mais perto de nós.
De fato, o mundo será diferente se formos capazes de semear um sorriso sincero e solícito, leal e libertador, puro e santo... Queira Deus fazer-nos sorrir para os outros como Ele o faz para com cada um de nós, seus filhos muito amados!
António Sílvio Couto
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